domingo, 9 de outubro de 2011

En Passant

Passarela abarrotada, um, dois, três e muitos mais de passagem. Rápido. Não olham o pássaro, só passam, repassam, apertam o passo. Correndo, não dão atenção, não diferenciam, vivem por viver e correm, morrendo. Pacivos à paisagem, confinados em seus paços paliçados de sonhos cosmopólitas, inaproximáveis, irredutíveis; poucos centimetros de distância, léguas sobre suas têmporas cansadas, palpitantes, não se encontram, não trocam olhares, se reduzem as suas cédulas retangulares, de valor circulante. Gold rush, Gold rush, Gold rush. Pululante com fardados de escritório, maletas quase filactérias, todos com prontidão arrogante para suas discussões no púlpito de valores. A gritaria é tanta que não se vê, quanto mais se ouve, e se houve um dia algo que apaziguasse, caiu na paz do esquecimento. É tudo verbal, sem olhares, e na passarela por onde todo mundo transita, todo o Mundo prantea, sem seus sentidos. Nessa transa incessante de pés, couro, borracha, asfalto e aquele chiclete lazarento, o fel da vida é esquecido em detrimento do cotidiano, que treme em orgasmo por destruir juventudes e amargar amores. É na passarela que anos são perdidos, elos são quebrados, sonhos são construídos em alicerces de incontáveis pedras de carne e osso, e onde, quem se atreve a olhar para o lado, arrisca-se a ser capturado pela peça inimiga ou capturar seu próximo; no fim, não há coragem que sobrepuje a ganância. E ninguém, ninguém se atreve a atravessar pela treva do outro caminho, gramado, diga-se de passagem.

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