terça-feira, 3 de agosto de 2010

Chuva Ácida

O Sol já era baixo, havia uma estranha comoção no ar, pessoas inquietas, andando como sempre no estranho vai-e-vém do cotidiano, da hora do rush. Mas era estranho, diferente, soava como uma grande catástrofe. Não só soava. Dos céus rúbros começava a cair uma chuva fina de coloração semelhante ao céu. A alegria entorpecente estampada nos rostos das pessoas seguia por um horror tremendo. Rostos deformados por gritos inaudíveis. Terrível. Hediondo. Devastador. Nos períodos que seguiram este extermínio, os poucos que sobreviviam se escondiam debaixo das construções que ainda não haviam sucumbido para as bátegas escarlates. Do mesmo vértice de onde surgiu a primeira gota, parecia começar a cair coisas diferentes agora: raiva, inveja, egoísmo e apreensão afligiam os pobres humanos sujeitos a esta catástrofe. O queimar de seus semblantes lembrava as sombras do Vesúvio. Após estes acontecimentos, com o cessar da chuva de lágrimas, alguns sobreviventes da inicial alegria, do medo, ira, e inveja levantaram-se dos escombros e como num surto de paixão, abraçaram-se sob o céu negro, salpicado de estrelas.

Se eu "sêsse" Jack

Eu sou os olhos tristes de Jack;
Eu sou a raiva de Jack;
Eu sou a boca seca de Jack;
Eu sou a consciencia torta de Jack;
Eu sou o fígado com cirrose de Jack;
Eu sou o câncer de pulmão de Jack;
Eu sou a mente doentia de Jack;
Eu sou as mãos trêmulas de Jack;
Eu sou o coração palpitante de Jack;
Bang!

Já era Jack.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Digo, do Vicio

Definitivamente, sou um homem cheio de vícios. Palavra forte, que determina um ciclo infindável de ações, insaciavelmente prazerosas. E ái daquele que não siga esse instinto selvagem, visão trêmula, nervosismo, dor na boca do estomago são só o prelúdio dessa ópera. Entra o coro das vozes, reverberando e dizendo, com toda a potência das cordas vocais coisas que só agravam a situação. “Fraco!”, recitam enquanto a execução da mente humana prossegue. “Ou a Morte?”, “Não viverá!”, “Caia em seus joelhos!” ecoam no crânio, e saem em forma de gritos.
É insuportável ser viciado. “Não confie nunca na agulha!”. E tente se convencer de que não precisa disso. Ele volta atrás. “Calúnia!”. E grita seu nome, chora, berra até não ter mais força, então sabe que você já voltou atrás, e senta novamente nos ombros do infeliz. É o preço que se paga pelo prazer, o vicio. “Eu vi você o fazer!”. O pobre homem cai, e como um altista, pára de perceber o redor e se envolve na redoma para se proteger. “Muito tarde!”. Eles já sabem de tudo, e nunca vão deixa-lo em paz. “Grite!”. E espera pela chance de adormecer, e acordar, livre da influência. Por um breve momento, e então tudo começa de novo. “Nunca me deixe sozinho!”. E chora, sem esperança. Assim é o dia-a-dia dele. Tem medo do que está por trás do espelho. Com um sorriso sádico, a agulha está de volta, e não deixará em paz. “Não sobrará nenhum!”.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Seda e Veludo

É a seda, é o veludo,
É maciez, é suave.
Sinto como ontem;
Sinestesia: Cheiro do macio,
macio da pele, macio do perfume.
É a queimadura, de pele e de alma;
Queimou e esquentou,
deixou escarlate o olhar;
Enrubresceu o toque.
Tocava, pensava, sentia...
Aliás, sinto! E como ontem!
Lembro, quero lembrar!
Procuro, mais e mais.
Que tem então?
Quero sentir o céu;
O cheiro do que era veludo,
Era veludo e é Seda.
A pele, pele macia,
nota musical de mulher.
Cabeça recostada,
calor do Sol,
queima alma, e deixa marcado.
Atritava mas não doía.
Dói é agora, de saudade.
Da Seda e do Veludo,
Veludo e Seda,
Queimou, sim,
agora e nunca.