sábado, 15 de outubro de 2011

La vie en Bleu

Engraçado é falar de alegria. Felicidade. Euforia. Ah, refrescante. Engraçado é o Poeta, arrogante, que finge que por escrever descreve o que sente para o mundo se deleitar, quando na verdade se despe de seus sentimentos, passa a não senti-los e de quebra proibe a todos de sentirem, por que se lerem, ah, se lerem vão usurpar, nunca sentir. Usurpador? Talvez. Prefiro proferir e nunca ferir, só afiro, e não difiro, com precisão caminhando por linhas retas, nunca tortas. Idiotisse falar que Poeta escreve em linhas tortas, quem faz isso é destro querendo ser gauche (permitam-se ler ao pé da letra). Poeta pretencioso quer que todo mundo pense igual? Pff, faz-me rir. O Poeta não quer nada além dos braços da amada, quer escreva terror, quer comédia ou romance. Poeta ama, via de regra. E por divagar devagar nas rotas de sonhos, em travesseiro de penas de anjo (o qual amorosamente deu-as para proveito do mortal apaixonado por si mesmo), escreve versos de quintal regados à temível lascívia inerente ao Humano. Treme de rir quando erra seu querido português (atreva-se agora a tomar nota dos erros). E na verdade, o Poeta nem gente é. É um pedacinho de cada um que já sentiu o calor dos braços da melancolia, com suas madeixas tom noir tragante, receptiva, belíssima. O poeta lembra bem de suas noites. Pileques. Viagens. Será isso passado ou presente? Perdeu a noção, pobre rapaz.. Perdeu-a enquanto olhava a moça dançar, como cigana, sem exigir ouro, apenas pedindo atenção às voltas de suas curvas; sem ler mãos, apenas fitando os olhos do pobre Poeta, encantado por querer; não sequestra criançinhas, mas leva o coração dos que a rodeiam, e do rapaz, solene Poeta. O Poeta, no fim das contas, se despe de suas tristezas, malogros e quereres e os troca por uma boa dose de oblívio, por que o dever da noite seguinte o chama, e o Sol raia logo. Ah, Poeta, onde estás? Cigana, tu bem sabes.. E por viver a vida em trajeto ciano, ele quebra as leis entrópicas do sentir e traga seu ultimo suspiro, seguido de escuridão e sono eterno. Poeta desistiu. Desistiu de escrever, desistiu de inspirar, desistiu de despir-se. Poeta se foi, por que descobriu que seu maior amor, sua estimada mente, está caleijada de tanto esquecer, e banha-se agora em paixão descontrolada. Achou sua cigana, por fim, e desistiu dela. Despe-se por fim de seu paletó e chapéu côco, e desbrava seu último poema; silencioso, eterno.

Um comentário:

  1. Você escreve muito mais que eu.
    Eu escrevo pra expressar, ora sim ora não, minha tristeza. Já seus textos me deixam legitimamente tristes. Considere-se uma inspiração.

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