sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Sonho nº 5 (A cruz e o Onironauta)
Aqui não existe esse negócio de noites em claro. Aqui todas são bem escuras. E os dias também. Aqui não se tem falta de sono, aqui sono é um problema. Aqui o sono tortura, machuca e marca. Aqui não se tem dia, aqui não se tem eu. Aqui os dias não são pares, nem vários, aqui os dias são poucas horas. Horas escuras, horas infindáveis, infindáveis de sono. São pesadelos seguidos, não se consegue mais acordar. Enxaqueca. Vibração. Lateja, pulsa. Dorme, dorme, dorme sem parar, sem sossego, sem descanso, só se corre contra tudo o que vem contra, e tudo vem contra mesmo. Não levanta, não se deita, não se tem, não se há. Reza para acordar, pede para sair. Não sái, não vai, não quer, aqui não se tem querer, só correr do que veio e que volta. Voltou. O suor escorre, maltrata, salga a carne em decomposição, e conserva mais desse sonho ruim, que perdura. É tudo noite. Abre os olhos e olha o Sol, e volta para o escuro, que machuca, mas não queima.
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